Nesta segunda parte da entrevista, Camila conta sobre o intercâmbio que fez nos Estados Unidos pelo programa do governo federal, Ciência sem Fronteiras, desde a seleção até a volta ao Brasil.
Biotec Jr.: Para qual universidade você foi selecionada e por qual programa de intercâmbio?
Camila: Eu fui selecionada para a Boston University, pelo programa Ciência sem Fronteiras.
BJ.: Quanto tempo você passou na Boston University?
C.: Fiz dois semestres acadêmicos lá, totalizando um ano.
BJ.: Como foi o processo de seleção no programa Ciência sem Fronteiras?
C.: Foi uma loucura! (risos) Como eu fui da primeira turma do programa, nada estava bem definido ainda, existiam mais dúvidas do que respostas, mas no final deu certo. Para passar no processo de seleção, você tinha que ter sua candidatura homologada pela sua instituição de ensino, então, a UNESP tinha que estar de acordo com o programa; você tinha que ter a nota mínima do exame de proficiência em inglês, no meu caso foi o TOEFL e, depois de tudo, tinha que ser escolhido e aceito por uma universidade americana.
BJ.: Há alguma exigência em relação ao desempenho acadêmico para conseguir bolsa por esse programa?
C.: Sim, isso estava listado como um dos pré-requisitos. Mas eu senti que a nota do TOEFL pesou mais na decisão.
BJ.: Os demais alunos da turma que foi com você eram da mesma área, de biotecnologia?
C.: Os que foram para Boston faziam ciência ou engenharia da computação, biomedicina, ciências físicas e biomoleculares e medicina.
BJ.: As matérias que você cursou poderão ser transferidas e substituídas pelas do curso?
C.: Eu ainda vou fazer a equivalência na primeira semana de aula, mas eu acredito que será difícil, porque fiz matérias bem diferentes do currículo da UNESP, em partes, com o intuito de aproveitar ao máximo a oportunidade e fazer coisas que não teria oportunidade de fazer aqui e, em partes, pela disponibilidade de matérias.
BJ.: Além das aulas, que outras atividades você teve oportunidade de participar durante o intercâmbio?
C.: Bom, fazer estágio estava listado no edital do programa, então, já sabíamos que teríamos que encontrar um, mas as universidades americanas tem muita infraestrutura, então, nós podíamos fazer aulas diferentes, como aulas de dança, línguas, luta, coisas assim. Além do enorme número de grupos estudantis que eles tem para tudo que você pode imaginar.
BJ.: Você fez estágio em Harvard, considerada uma das melhores universidades do mundo. Como que foi essa conquista?
C.: Bom, como eu disse, nós já fomos para os EUA sabendo que teríamos de encontrar um estágio, mas nós não sabíamos muito bem como isso poderia ser feito – se, estando na BU, poderíamos procurar estágio em laboratórios de outras universidades ou se só poderíamos procurar em empresas e laboratórios da própria BU – e, como erámos a primeira turma, essa informação demorou para chegar. Ficamos sabendo tarde que poderíamos buscar onde quiséssemos e isso gerou vários problemas: a maioria dos programas já estava fechado e os restantes só aceitavam cidadãos americanos.
Eu não estava me conformando que eu estava tão perto de Harvard e do MIT e não conseguiria nada por lá, mas, depois de muito procurar, eu encontrei o REU (Research Experience for Undergraduates) da School of Engineering and Applied Sciences de Harvard. Era o único programa que ainda estava aceitando inscrições e o único que possuía dois laboratórios que aceitavam estrangeiros.
Eu tive quatro dias para preencher o formulário com o meu currículo e escrever duas redações justificando meu interesse. Meu único empecilho era o histórico juramentado de Assis, que não iria chegar no prazo nunca, mas a coordenadoria me deixou entregar depois, se eu mandasse o desatualizado junto com os demais documentos.
A seleção foi feita pelos professores que iriam orientar os estagiários. Todas as nossas informações ficavam disponíveis e eles escolhiam os alunos que achavam que tinham o perfil mais adequado. Foi assim que eu fui parar no Rowland Institute at Harvard.
BJ.: Quais você acha que foram suas atribuições mais determinantes para conseguir esse estágio?
C.: Bom, meu professor é biofísico. Então, quando ele viu biofísica no meu currículo, ele achou que eu era a super biofísica. (risos) O projeto que ele tinha me proposto envolvia técnicas biofísicas no estudo de uma planta carnívora. Ele se interessou muito pelas partes de exatas do meu currículo, o que foi bem complicado no início, já que faziam mais de seis meses que eu não fazia nada de exatas, mas, depois, nós fomos nos acertando de acordo com as facilidades de cada um.
No fim, ele viu que o meu conhecimento de biológicas poderia ser muito mais útil para o projeto do que eu passar horas tentando programar em uma linguagem que eu nunca tinha visto.
BJ.: Quais foram as suas maiores dificuldades, desde a seleção até a volta ao Brasil?
C.: A língua foi uma! Estávamos em cinco brasileiros no começo. Depois, ficamos em oito e, por mais que a gente tente, é muito difícil se comunicar em inglês quando se sabe que a pessoa te entende em português. Meu nível de inglês é avançado, mas, conversando com as pessoas, a gente notava o nosso sotaque e a falta de vocabulário para se expressar fluentemente. Meu inglês só foi melhorar mesmo no estágio, quando eu fiquei só entre americanos ou estrangeiros. Eu não tive nenhum problema de adaptação, porque, como diz minha irmã, "é muito fácil se acostumar com o que é bom".
Só foi difícil voltar! (risos)
BJ.: O que esse intercâmbio te acrescentou?
C.: Academicamente, não precisa nem falar, né? Só o estágio e o networking que eu fiz já podem ser decisivos nas próximas etapas da minha vida. Como pessoa, eu voltei com uma visão diferente do Brasil, aprendi muito sobre outras culturas, porque o EUA é extremamente multicultural, muito mais do que eu imaginava, tive uma noção diferente de qualidade de vida e justiça.
E o estágio pode gerar dois artigos meus. Um já foi submetido, está em fase de peer review, e o outro está em fase de escrita.
BJ.: Muito obrigada pela entrevista, Camila! Com certeza será de grande proveito para os graduandos e futuros graduandos que leem o nosso blog! Parabéns pelas conquistas! Torcemos que venham muitas outras pela frente! Você tem algum recado ou alguma dica para os alunos que estão entrando agora no curso de Engenharia Biotecnológica da Unesp?
C.: Bom, primeiro, não se desesperem e desistam do curso com medo do mercado de trabalho depois. Todas as empresas biotecnológicas que a gente sonha existem! Elas só não chegaram com força aqui ainda, mas isso não quer dizer que elas não vão ou que você não pode ir atrás delas. E, se tiverem a oportunidade de fazer intercâmbio, não pensem duas vezes e façam!