Um suplemento mineral produzido a partir de matérias-primas de alta disponibilidade e baixo custo poderá contribuir, em 5 anos, para que sejam supridas as necessidades de ferro de quem carece desse nutriente.
O potencial deste novo produto é uma das possíveis aplicações de um projeto de pesquisa recém concluído por Maria Teresa Bertoldo Pacheco e sua equipe do Centro de Química de Alimentos e Nutrição Aplicada do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), com apoio da FAPESP.
"Testamos duas matérias primas abundantes e baratas: o soro de leite e as leveduras de cana-de-açúcar (Saccharomyces cerevisae)", disse Pacheco. Segundo ela, proteínas proteínas provenientes das duas fontes foram clivadas (ou 'cortadas') e os peptídeos (fragmentos de proteínas) resultantes passaram por ultrafiltragem para obtenção de frações muito pequenas, que foram utilizadas na reação de quelação com o ferro, na forma de sulfato ferroso (FeSO4).
Essa reação consiste em ligar o íon ferro a mais de um radical do peptídeo e, para o produto resultante ser ideal como suplemento alimentar, a quelação do ferro deve ser forte, mas não demais. "Deve ser forte o suficiente, para garantir a estabilidade do composto durante sua passagem pelo trato digestivo, caracterizado pelo pH ácido do estômago; mas não tão forte, de modo que a molécula seja capaz de liberar o ferro ao chegar aos enterócitos da membrana intestinal, possibilitando sua absorção", disse.
Essa preocupação existe pois muitos alimentos ricos em ferro acabam sendo de pouca utilidade para o ser humano, uma vez que a biodisponibilidade do nutriente é baixa. "De modo geral, a absorção é muito pequena, pois, devido ao potencial oxidativo e tóxico do ferro, o organismo possui mecanismos naturais de defesa, para limitar sua assimilação", disse Pacheco.
Segundo a pesquisadora do Ital, os resultados obtidos com as proteínas hidrolisadas do soro do leite foram muito favoráveis. Já os hidrolisados de proteína de levedura apresentaram menos capacidade de quelação ao ferro. "Isso se deve provavelmente ao fato de essas proteínas serem materiais de menor pureza, contaminados com polissacarídeos provenientes da parede celular", disse.
Constatado o potencial do soro de leite, o próximo passo é testar a biodisponibilidade do material com células conhecidas como CACO 2, que simulam o comportamento fisiológico e metabólico da borda intestinal humana e, em seguida, com modelos animais.
"Se chegarmos a um peptídeo com alta biodisponibilidade, poderemos até sintetizá-lo a partir dos aminoácidos componentes", afirmou Pacheco.
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