sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Diário de um Engenheiro: Potenciais Riscos à Saúde por Poluentes de Ambientes Aquáticos

É comum ao menos uma vez ao ano ouvir alguma notícia sobre o vazamento de petróleo do reservatório de algum navio, em algum lugar. Logo essa notícia é esquecida e então, somente lembrada alguns dias depois quando o novo assunto é o tratamento ou a dimensão daquela mancha de petróleo ou alguns de seus impactos ambientais. 

Contrariando o volume de notícias nesse sentido, o petróleo não é o maior vilão da poluição das águas. Outros tipos de poluentes afetam direta ou indiretamente a qualidade de vida da população, inclusive em maior escala que os acidentes de transporte marítimo, contudo com menor visibilidade. De acordo com o Greenpeace, os poluentes provenientes da terra representam 44 por cento dos poluentes que penetram no mar, as fontes atmosféricas responsáveis por aproximadamente 33 por cento e o transporte marítimo responsável por apenas cerca de 12 por cento. Dentre os poluentes dos mares estão os esgotos domésticos, as descargas industriais, o escoamento de superfície urbano e industrial, os derrames, as explosões, as operações de descarga no mar, a exploração mineira, os nutrientes e pesticidas da agricultura, as fontes de calor desperdiçadas e as descargas radioativas. 

Esses poluentes englobam várias substâncias sendo algumas delas os agrotóxicos, os metais pesados, compostos radioativos, esgoto, hormônios, fármacos, etc. Essas substâncias podem causar diversos efeitos como se acumular nos tecidos dos animais marítimos, causar mutações, atrapalhar a reprodução e causar doenças. Isso pode, do ponto de vista ecológico prejudicar os ecossistemas afetando diretamente a qualidade de vida da fauna e flora local locais prejudicando suas inter-relações. De um ponto de vista econômico fica prejudicada a exploração dos recursos oferecidos por aquele local, seja a pesca ou o lazer. Além dos danos ecológicos e econômicos causados fica cada vez mais evidente que estes danos também alcançam os seres humanos, por exemplo, as populações dependentes de recursos marítimos acabam se contaminando. Mais de 40% de população mundial vive ao longo da costa, sendo dependentes do oceano para a alimentação, recreação e sustento. Fica claro que uma grande parcela da população mundial corre um risco verdadeiro de ser atingida pelas diversas ações dos poluentes. 

Isso pode ser evidenciado, em menor escala, por um estudo publicado no ano 2000 para avaliar a concentração anormal de chumbo no cabelo de pessoas de comunidades ribeirinhas do rio Tapajós no Pará, próximas a zonas de garimpagem, e que tem como a principal fonte de alimentação os peixes deste rio (que tem uma concentração comprovadamente alta de chumbo). Ficou evidenciado que nessas comunidades havia concentração acima do limite de tolerância biológica. 

Apesar de não depender diretamente dos recursos oceânicos o restante da população mundial também pode ser afetado por esse tipo de poluição através do consumo de carne, leite e outros derivados animais. Alguns tipos de peixes são transformados em farinha de peixe e óleos de peixe, e são destinados à alimentação de animal. De acordo com as características lipossolúveis de algumas substâncias, estas tendem a ser retidas em óleos e gorduras, e, portanto nestes alimentos animais. Se esses peixes estiverem contaminados, há grandes chances de essa contaminação persistir nos animais que são alimentados com os produtos feitos a partir do peixe. Assim, estes animais acabam se tornando intermediários entre as substâncias lançadas ao mar e o homem. Uma vez que esses contaminantes entram em contato e se acumulam no ser humano pode haver danos à saúde com sintomas variando de acordo com o tipo de contaminante. Podem acontecer mutações, desvio de rotas metabólicas, mudanças hormonais, tudo culminando em diferentes danos ao organismo. 

Um exemplo de substância danosa são os agrotóxicos organofosforados e os carbamatos, largamente utilizados, que possuem característica de inibidor da enzima acetilcolinesterase no sistema nervoso, sendo atuantes tanto nos seus alvos, os insetos, quanto em mamíferos, no caso do ser humano. 

Assim fica evidente que há uma excessiva contaminação das águas doces e marítimas, e que é subestimada pela maioria da população tanto em sua dimensão quanto em seu potencial de atingir o ser humano de forma negativa. É necessário maior empenho por parte dos governos na redução do lançamento dessas substâncias nos rios e oceanos, tanto através de multas quanto de educação ambiental, ou tratamento prévio destes resíduos de forma a diminuir seus efeitos nocivos. 

Tulio Gustavo Biazotto Rodrigues
Engenharia Biotecnológica, 4º ano

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