Os metais pesados podem danificar toda
e qualquer atividade biológica. Existem inúmeros tipos de respostas biológicas
a esses metais, mas o acesso variado aos componentes biológicos faz com que
certos tipos de respostas predominem. Por exemplo, todos os sistemas
enzimáticos são potencialmente suscetíveis aos metais pesados. Por outro lado,
nos organismos vivos, o acesso dos metais pesados pode ser limitado pelas
estruturas anatômicas; além disso, os sítios ligantes inertes podem competir
pelo íon metálico. Por essas razões, frequentemente existem consideráveis
diferenças de sensibilidade entre diferentes órgãos e tecidos, assim como na
ação observada entre experimentos in vivo e in vitro, entre espécies e entre
respostas típicas de envenenamento clínico.
Dentre os metais pesados, o chumbo é
um dos mais utilizados na indústria. Seu uso diversificado é atribuído,
principalmente a sua maleabilidade e resistência à corrosão. Sua toxicidade gera
desde efeitos claros, ou clínicos, até efeitos sutis, ou bioquímicos. Estes
últimos envolvem vários sistemas de órgãos e atividades bioquímicas.
A intoxicação por chumbo pode ocorre
devido à contaminação ambiental, pela ingestão de alimentos e bebidas
contaminadas e por partículas suspensas no ar.
Na atividade ocupacional, a via mais frequente de intoxicação é a
inalatória, como consequência da contaminação do ambiente de trabalho.
Calcula-se que mais de 4.000.000 de toneladas de Chumbo são consumidas
anualmente em todo o mundo e que cerca de 1% de todos os trabalhadores estejam expostos ao
chumbo.
- Mineração,
fundição e refinamento de chumbo
- Fabricação de
acumuladores elétricos chumbo/ácido
- Fabricação de tintas, corantes, vernizes e esmaltes
- Fabricação de cerâmicas
- Fabricação de armas de fogo e munições
- Indústria química
- Soldagens
Absorção
A inalação de Chumbo pode ocorrer na
forma de vapores (compostos orgânicos), fumos (PbO) ou poeiras. As partículas
pequenas atingem os alvéolos e podem ser absorvidas ou fagocitadas e então
removidas até o epitélio ciliado, de onde alcançam a faringe sendo expectoradas
ou deglutidas. A absorção do Chumbo no epitélio alveolar é rápida e,
geralmente, cerca de 50% das partículas retidas em uma região são absorvidas. A
absorção cutânea dos compostos inorgânicos de Chumbo é pequena, ocorre apenas
no caso da pele estar lesada. Por outro lado, os compostos orgânicos, por serem
lipossolúveis, podem ser absorvidos através da pele intacta. No caso da
introdução pela via oral, a absorção é pequena e ocorre na mucosa intestinal
(intestino delgado), sendo que a quantidade absorvida varia com a idade, sexo,
dieta e tipo de composto ingerido.
Distribuição
A concentração de chumbo no sangue,
denominado plumbemia, é função da absorção, armazenamento e excreção do metal
no organismo. Assim plumbemia é igual ao total de Chumbo absorvido menos o
total de Chumbo armazenado e excretado. O chumbo segue o movimento do cálcio no
organismo, depositando-se nos ossos como fosfato de chumbo, sendo que até 94%
do Chumbo absorvido pode ser armazenados nesse local. A concentração do Chumbo
nos ossos varia de acordo com a idade e o tipo de osso. Alguns autores afirmam,
ainda, que o sexo também poderá influenciar na porcentagem de Chumbo armazenado
nos ossos. A volta do Chumbo ósseo para a corrente circulatória pode ser
desencadeado por alguns fatores tais como a atividade osteoclástica,
osteolítica, a acidose e a troca iônica. Em relação à troca iônica é importante
ressaltar o íntimo relacionamento Ca-Pb. Geralmente, todo fator que auxilia na
fixação ou liberação do Ca2+ dos ossos, exercerá
igual papel em relação ao Chumbo.
Biotranformação e
Excreção
Somente os compostos orgânicos de Chumbo
sofrem biotransformação. O chumbo tetraetila e tetrametila são desalquilados
parcialmente no fígado, formando, principalmente o chumbo trialquilado.
Atribui-se à estes metabólitos trialquilados as propriedades tóxicas de seus
precursores (mecanismo de ativação). Sabe-se que o chumbo tetrametila é menos
tóxico do que o tetraetila, o que poderia ser explicado pela menor velocidade
de biotransformação do primeiro composto.
Após ser biotransformado, o chumbo é excretado pelo organismo de duas
maneiras, excreção urinaria e pelas fezes. Na excreção urinaria, são excretados
cerca de 75% do Chumbo absorvido. Neste tipo de excreção os mecanismos são a
filtração glomerular e a secreção tubular ativa. Na excreção pelas fezes, será
eliminado o Chumbo que foi ingerido e não absorvido no TGI. . Pode ocorrer também a
excreção fecal dos compostos que, após terem sido absorvidos, sofrem secreção biliar. É o
chamado ciclo entero-hepático do metal.
Danos causados pelo
chumbo
Efeitos gastrintestinais: A manifestação mais precoce e bastante
incômoda é a cólica saturnina, que se caracteriza por espasmos intestinais que
provocam dor abdominal intensa. Os músculos abdominais tornam-se rígidos,
ocorrendo hipersensibilidade acentuada na região umbilical, febre e palidez.
Efeitos neuromusculares: O chumbo promove desmielinização e
degeneração axonal, prejudicando as funções psicomotoras e neuromusculares.
Provoca ainda alterações do metabolismo de alguns neurotransmissores, como por
exemplo, da acetilcolina e das catecolaminas.
Efeitos neurológicos: A encefalopatia pelo chumbo ou saturnina,
representa várias doenças que afetam o cérebro. É considerada a manifestação
mais grave da intoxicação pelo chumbo, sendo mais comum em crianças. Nestas, a
exposição ao metal resulta, algumas vezes, em nítida deterioração mental
progressiva. O índice de mortalidade em pacientes com comprometimento cerebral
é de cerca de 25%.
Efeitos no sistema hematopoético: O sistema hematopoético é o
responsável pela formação do sangue, a ação do chumbo sobre este sistema inibe
a eritropoese (formação de hemácias), provocando anemias.
Efeitos cardiovasculares: Os efeitos sobre o sistema
cardiovascular incluem uma síndrome de miocardite crônica, que provoca
alterações no eletrocardiograma, hipotonia ou hipertonia (distúrbios na
inervação/regulação dos vasos sanguíneos) e produz ainda um quadro de
hipertensão.
Efeitos renais: A toxicidade renal pode manifestar-se por
distúrbio reversível dos túbulos renais e nefropatia intersticial irreversível.
Efeitos hepáticos: Ocorre o desenvolvimento de uma síndrome que
interfere nos processos de biotransformação, com redução na concentração
hepática do citocromo P450. Podendo ocorrer ainda o desenvolvimento de hepatite
tóxica. Essas situações, no entanto, somente são observadas em intoxicações
severas.
Renan
Peixoto dos Santos
Graduando do curso de Engenharia Biotecnológica
Referências bibliográficas
LEITE, E.M.A. Exposição Ocupacional ao Chumbo e seus compostos. Universidade Federal de Minas Gerais.
MOREIRA, F.R.; MOREIRA, J.C. Os efeitos do chumbo sobre o organismo humano e seu significado para a saúde. Rev Panam Salud Publica. 2004;15(2):119–29.
SCHIFER, T.S.; JUNIOR, S.B.; MONTANO, M.A.E. Aspectos toxicológicos do chumbo. Infarma. v.17, nº 5/6, 2005.
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