Há milhões de anos, plantas, algas e algumas bactérias fazem uso da fotossíntese para transformar luz em energia. Cientistas agora se apressam a dizer: elas têm feito isso errado. Ou melhor, de um jeito ineficiente, que aproveita só 5% do que poderia.
Três dos principais nomes da área protagonizaram ontem uma das palestras que mais despertaram a atenção do público presente na reunião anual da AAAS (Sociedade Americana para o Progresso da Ciência), em Vancouver, no Canadá.
"Essa história toda de otimizar a fotossíntese pode parecer maluquice, mas eu garanto que não é. Afinal, eu não teria sido chamada para falar em um evento tão importante se a minha pesquisa não fizesse sentido", disse Anna Jones, da Universidade do Estado do Arizona.
Ela e outros pesquisadores querem otimizar o processo de transformação da energia recebida do Sol. Atingir esse objetivo permitirá melhorar culturas de alimentos e produzir combustíveis renováveis de um jeito sustentável e em grandes quantidades.
"Na natureza, a enzima que acelera a fotossíntese, a rubisco, acaba saturada após algum tempo de exposição à luz e o processo fica lento. Ou seja, os organismos têm uma ampla oferta de luz, mas não a capacidade de transformar essa energia em um combustível armazenável", diz Jones.
Para dar uma forcinha à natureza, os cientistas estão tentando vários métodos. Uma das principais apostas é pensar o processo da fotossíntese como se fosse a geração de energia numa bateria.
Em sua pesquisa, Jones quer gerar mais energia ao separar as duas etapas do processo: a captação e a produção da energia. Cada uma seria feita em uma estrutura. As duas seriam ligadas por um fio biológico, que transmitiria a energia gerada com alta eficiência. Esses nanocabos podem ser produzidos por bactérias, como a Shewanella oneidensis, cultivadas em condições especiais.
"Esse material consegue alta taxas de condutividade. Comporta-se quase como alguns condutores de metal", afirma Jones.
O trabalho de Richard Cogdell, da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, também aposta nos nanofios para otimizar a fotossíntese. Batizada de folha artificial, sua ideia é criar um jeito de simplificar o processo.
"A natureza tem várias maneiras de fixar carbono. Estamos incentivando as mais eficientes", diz o cientista.
O grupo de Cogdell é um dos mais bem-sucedidos. Além de ser a estrela de um recente programa na rede BBC, o cientista deve conseguir a patente de um combustível gerado por essa fotossíntese turbinada.
Ele afirma não poder dar muitos detalhes. Mas o campo é promissor. Além de várias empresas se interessarem em patrocinar estudos nesse campo, fundações distribuíram mais de US$ 10 milhões em verbas para as pesquisas.