A partir do sequenciamento do genoma do café, uma iniciativa da Embrapa e de outras instituições brasileiras concluída em 2004, os pesquisadores começaram a estudar os genes da planta do café e a procurar neles características desejáveis que pudessem melhorar a produção agrícola nacional, como a resistência à seca.
“O café é muito sensível à falta d’água e sofre bastante com as variações climáticas”, afirma Marcio Alves Ferreira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Esse gene poderia melhorá-lo geneticamente e facilitar sua adaptação”, avalia Ferreira.
De 30 mil genes considerados promissores, os pesquisadores inicialmente selecionaram seis, com a ajuda de um programa de computador. Depois de uma avaliação laboratorial, chegaram a dois genes. Ambos foram investigados em uma planta de fácil cultivo, considerada modelo na genética, da espécie Arabidopsis thaliana.
Finalmente, o gene batizado de CAHB12 foi identificado como aquele capaz de conferir uma maior tolerância à seca, pois se expressava quando a planta era submetida à escassez de água.
No entanto, não necessariamente todos os genes expressos na condição de seca estão diretamente envolvidos com a proteção da planta a esse estresse. Para então saber se o CAHB12 estava realmente relacionado com respostas adaptativas ao déficit hídrico no café, os pesquisadores submeteram plantasda espécie Coffea arabica, a períodos de até dez dias sem água. Com este experimento foi verificado que na falta de água, a expressão deste gene ia aumentando progressivamente.
Plantas não-transgênicas, à esquerda, contrastam com as que foram modificadas, mais resistentes à seca. (foto: ACE Embrapa) |
Confirmada a capacidade de proteção do gene à seca, o passo seguinte foi cloná-lo e transferi-lo, por meio de uma bactéria usada como vetor, para o DNA de uma planta modelo.
Nessa planta, o gene de tolerância à seca passou a ser expresso o tempo todo, em altos níveis, independentemente de ser ou não submetido à falta de água. Essa expressão constitutiva foi induzida artificialmente e analisada pelos pesquisadores.
O grupo pretende ainda, em paralelo aos testes com o gene do café resistente à seca, estudar o genoma da soja. A expectativa é que se descubra em seus genes a mesma característica encontrada no gene do café, o que poderia minimizar os eventuais impactos adversos por se tratarem de alterações genéticas dentro da mesma espécie de planta.
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