terça-feira, 25 de outubro de 2011

Quando a leucemia resiste à quimioterapia



Uma equipe de pesquisadores do Centro Infantil Boldrini, em Campinas (SP), descobriu um mecanismo de interação que torna a leucemia linfoide aguda, câncer desenvolvido na medula óssea, resistente à quimioterapia. Com o estudo, os pesquisadores esperam desenvolver novos tratamentos para os pacientes que não conseguem se recuperar da doença por esse motivo. O trabalho mostra como alguns genes desse tipo de tumor interagem com uma família específica de células da medula óssea.
Células do estroma sozinhas (A) são procuradas (B) pelasleucêmicas
 (cor clara). Em alguns casos, migram para baixo das leucêmicas
(setas) para se proteger contra a quimioterapia


Dentre os três tipos de leucemia que se desenvolvem em crianças e adolescentes, a leucemia aguda é o câncer mais comum nessa faixa etária. Cerca de 70% a 80% dos jovens acometidos pela leucemia linfoide aguda conseguem a cura por meio da quimioterapia. Nos demais, as células cancerígenas se mostram resistentes ao ataque da quimioterapia, ocasionando uma recaída do paciente com relação à da doença. O mecanismo descoberto agora pode ser uma das explicações para essa falha do medicamento e uma direção para novas medicações no futuro.

Coordenado por José Andrés Yunes, do Centro Infantil Boldrini e da Universidade Estadual de Campinas, o estudo aborda a influência das células de estroma (família de células responsáveis por formar a estrutura básica de um órgão) sobre as células leucêmicas. Mais especificamente, os pesquisadores estavam interessados em analisar o efeito do estroma sobre genes da leucemia relacionados à resistência aos quimioterápicos. Os pesquisadores mostraram que a atividade de alguns genes de resistência das células leucêmicas aumentou ao entrar em contato com o estroma. Ou seja, ele acaba colaborando com a doença, estimulando genes da célula cancerosa a produzirem em conjunto com a insulina uma proteína chamada IGFBP7, que potencializa a resistência do tumor ao tratamento quimioterápico.

O trabalho revelou uma ’cumplicidade’ entre as células leucêmicas e as células do estroma, graças a essa proteína. As células do estroma atuam sobre as leucêmicas que por sua vez estimulam o metabolismo das primeiras, dificultando a ação da quimioterapia. Isso acontece porque, apesar de o medicamento quebrar um aminoácido essencial (molécula básica para estruturação de proteínas) para o desenvolvimento das células cancerosas, a IGFBP7 faz com que o estroma forneça quantidades maiores do aminoácido. Assim, a proteína conduz a uma alteração do microambiente tumoral que atrapalha a ação do quimioterápico, beneficiando a leucemia.

Entender esse funcionamento pode abrir a possibilidade de se desenvolver drogas capazes de neutralizar esse efeito”, conta um dos autores, Angelo Laranjeira, doutorando da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em parceria com o Boldrini. “Resultados preliminares nos levam a crer que a IGFBP7 também possa estar envolvida na resistência a outros quimioterápicos”, diz. Segundo Yunes, medicamentos contra o diabetes talvez possam auxiliar a quimioterapia no tratamento desses casos de câncer.

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