A descoberta de que o Universo está se expandindo de forma mais acelerada de bilhões de anos para cá rendeu o prêmio Nobel de Física 2011 aos cientistas Saul Perlmutter, Adam G. Riess e Brian P. Schmidt. Essa descoberta tem um profundo impacto não só para a física e a
cosmologia, como também para nossa relação com o Cosmos. Jamais havia
passado pela cabeça de alguém, nem mesmo pela dos três pesquisadores que
ganharam o Nobel, que isso poderia acontecer. A razão era simples: se
lançamos uma sonda espacial com velocidade maior do que 11 Km/s, que é a
velocidade de escape da superfície da Terra (energia de movimento maior
que a energia gravitacional), ela se afasta com velocidade uniforme. Se
a velocidade for um pouco menor, a sonda vai se desacelerando e volta a
cair na Terra. Ela só consegue acelerar se tiver combustível para gerar
uma força capaz de vencer a atração gravitacional. Para o Universo,
também se pensava que só existiam essas duas possibilidades: expansão
uniforme eterna ou desaceleração seguida de colapso (Big Crunch). A
descoberta da aceleração da expansão do Universo por meio da observação
de estrelas supernovas distantes implica na existência de uma “força”
contrária à da gravidade e mais forte que ela. Essa espécie de
“gravidade negativa” é a componente dominante do Universo (73%) e é
chamada de energia escura.
Na década de 1930, Fritz Zwicky já havia descoberto outro problema
cosmológico grave: a matéria escura. Ela não absorve nem emite luz, tem
gravidade atrativa como a nossa e não é composta de átomos. Os físicos
nunca se incomodaram muito com a matéria escura, embora ela seja seis
vezes mais importante que a nossa matéria e componha 23% do Universo.
Diferentemente da energia escura, existem esperanças de detectar
partículas de matéria escura no grande acelerador de partículas LHC (que
fica no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares, em Genebra, Suíça) num
futuro próximo.
Tudo o que costumávamos chamar de Universo – as
galáxias, com suas estrelas, planetas e nuvens de gases, a antimatéria
(formas diferentes de matéria bariônica) – representa, na verdade,
somente 4% do Universo. É desconcertante para a física, que empreendeu
tantos esforços para criar suas duas grandes teorias (a Relatividade
Geral e a Mecânica Quântica), só poder aplicar essas teorias a 4% do
Universo.
O problema da energia escura, entretanto, não parece
ter solução no médio prazo. Ela parece estar ligada a uma propriedade de
campo, que abrange o espaço-tempo como um todo. Uma alternativa
inquietante para o futuro é que a aceleração não pare. Se isso continuar
acontecendo, essa força vencerá gradativamente os sistemas ligados
pelas forças gravitacional, elétrica e até nuclear. Primeiro, ela
desmancharia os grupos de galáxias, depois espalharia suas estrelas pelo
espaço, arrancaria os planetas de suas órbitas e sugaria os gases para
fora das estrelas. Depois, atingiria os átomos, evaporando a eletrosfera
e, finalmente, arrancaria os prótons e nêutrons dos núcleos atômicos.
Seria o “Big Rip” (Grande Estraçalhamento), em que o Universo terminaria
como uma nuvem amorfa de partículas.
Existem outras
possibilidades, inclusive a de que essa fase seja superada por outra,
que não é o caso de discutir aqui. Essa alternativa já aconteceu antes.
Por exemplo, logo após o Big Bang, quando o Universo tinha 1 milionésimo
de bilionésimo de bilionésimo de bilionésimo de segundo, ele sofreu uma
expansão acelerada análoga à atual, mas muito mais rápida: a era da
inflação. A fase seguinte, que durou 400 mil anos, foi dominada pela
luz. Quando o Universo expandiu o suficiente, a luz perdeu seu domínio e
a matéria passou a dominar, arrebanhando os gases em forma de estrelas e
galáxias. Com a diminuição da densidade da matéria, a gravidade foi
perdendo terreno até que, uns 12 bilhões de anos depois, a energia
escura tomou as rédeas da expansão. O Universo é mutante e suas fases
são dominadas por entidades que, por escaparem ao nosso cotidiano, são
difíceis de imaginar.
Fonte: Revista Pesquisa Fapesp
Leia mais detalhes em: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=71762&bd=2&pg=1&lg=
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