quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Entrevista do mês de Agosto


O Jornal Biotec fez uma entrevista com o aluno de graduação da Engenharia Biotecnológica – Kairo Dias Gonçalves - que trabalha com a produção de lipases por fungos filamentosos cultivados em resíduos agroindustriais visando aplicação do sólido fermentado em reações de transesterificação para a obtenção de biodiesel

Projeto: Produção de Lipases por Fermentação em Estado Sólido Visando Aplicação em Transesterificação
Orientador: Profa. Dra. Valéria Marta Gomes de Lima

Jornal Biotec – O que fez você se interessar por tal assunto? 
Kairo Dias: Desde o início da graduação sempre me interessei pela área da microbiologia. Essa área permite obtermos diferentes produtos de interesse humano a partir de microorganismos, cujo cultivo, manipulação e produção são simples se comparados a outros organismos empregados na obtenção de moléculas de interesse. Animais experimentais, como ratos ou camumdongos, conseguem expressar a dor, enquanto que um fungo não, nem mesmo quando eu o destruo por completo. Dentro dessa área, o que me chamou a atenção foram os biocombustíveis, que tem crescido bastante nos últimos tempos. Assim sendo pretendi obter algum biocombustível a partir de algum produto de algum microrganismo e com isso acabei chegando a essa minha linha de pesquisa.

Jornal Biotec – Você saberia dizer se indústrias poderiam apresentar algum interesse por essa linha de pesquisa?
Kairo Dias: A linha de pesquisa em si é extremamente interessante e inovadora por empregar, como meio sólido para o crescimento de fungos filamentosos resíduos agroindustriais cujo volume cresce exponencialmente no Brasil e por gerar um produto de elevado valor agregado (biodiesel).  No entanto a Fermentação em Estado Sólido (FES) possui algumas limitações se comparada à fermentação tradicional, como a dificuldade de controle de alguns parâmetros como o crescimento de biomassa, aeração e entre outros. Além disso, a aplicação do sólido fermentado em reações de transesterificação é algo bem novo e muito discutido, pois questões de homogeneidade e de concentração de enzima imobilizada no suporte vêm à tona.

Jornal Biotec – O projeto de pesquisa foi financiado por alguma instituição? Se sim qual? Você considera que o fato de hoje a grande busca combustíveis alternativos facilitou o acesso ao financiamento?
Kairo Dias: O projeto é financiado pela FAPESP, no entanto não acredito que a busca por combustíveis alternativos tenha sido um fator decisivo para a concessão da bolsa, uma vez que o foco do meu projeto não é a obtenção do biodiesel, mas sim a aplicação da enzima obtida em uma reação de transesterificação e a caracterização, qualitativamente e quantitativamente, dessa reação. 

Jornal Biotec – Você acredita que a produção de lipases por FES  é viável financeiramente?
Kairo Dias: A FES possui uma redução dos custos na obtenção da molécula de interesse extremamente grande, pois são utilizados apenas resíduos agroindustriais como fonte de nutrientes para o crescimento do microrganismo. No entanto, como o monitoramente é difícil, o processo é ainda pouco empregado e por isso é que alguns estudos de bancada ainda devem ser desenvolvidos até que o processo fermentativo seja desvendado por inteiro. Então, por enquanto, esse tipo de produção ainda não é viável, mesmo que haja uma redução dos custos de produção.

Jornal Biotec – Como foi o desenvolvimento do seu projeto? Houve algum problema durante suas atividades? Se sim, qual foi sua estratégia para contorná-lo?
Kairo Dias: O desenvolvimento do projeto foi tranquilo, à medida que o escrevia, já desenvolvia algumas partes no laboratório e claro que, em paralelo a isso, muitos artigos foram lidos e muitas reuniões com minha orientadora foram realizadas, para um auxílio na elaboração do mesmo.  Problemas são muito frequentes e nem tudo dará certo logo na primeira tentativa e talvez não dê na última, sendo necessário trocar o seu procedimento. Temos sempre que ter calma, repetir várias vezes um mesmo experimento, pensar em alternativas para um mesmo procedimento e conversar com professores, amigos e até mesmo familiares. Há sempre uma saída, por mais demorada que seja. No final de tudo dará até orgulho de termos conseguido depois de tanto sofrimento.  

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