Doutor em biologia molecular pela
Universidade do Texas em Austin e pesquisador de vacinas contra o HIV do
Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, Jamie L. Vernon publicou um
artigo no site da revista Scientific American demonstrando sua preocupação com o otimismo exacerbado a respeito da
cura da Aids, o que poderia afastar os investimentos em vacinas contra o vírus.
O motivo é o caso do americano Timothy Ray Brown, que conseguiu arrancar
qualquer traço detectável de HIV em seu organismo. O tratamento foi a
combinação de um transplante de medula para combater a leucemia e a escolha
pensada de um doador especial, com uma mutação no gene CCR5 que impede o HIV de
infectar células do sistema imunológico. Era o único doador com essa mutação em
uma lista com mais de 13 milhões de pessoas, ou seja, um evento bastante
incomum do ponto de vista genético.
O caso de Brown – talvez o
primeiro doente de Aids curado em todo o mundo – foi amplamente divulgado pela
imprensa mundial e foi destaque em uma reportagem de
ÉPOCA, em dezembro do ano passado.
Em seu artigo, o pesquisador
elenca quatro motivos para provar seu ceticismo. (1) Brown teve sucesso em seu
tratamento com antiretrovirais, o que não acontece com todos os pacientes.
Quando deixou de tomar os antiretrovirais para tratar a leucemia com
transplante de medula, o vírus HIV continuou indetectável, como durante o
tratamento. Segundo Vernon, “ninguém jamais parou de tomar drogas anti-HIV sem
experimentar um retorno do vírus”. (2) O risco de morte com transplante de
medula vai de 10% a 40%, dependendo da gravidade da leucemia. (3) Testes no
sangue de Brown revelaram que ele tinha variações do vírus HIV que não
precisavam do CCR5 para infectar o sistema imunológico. (4) Brown teve graves
efeitos colaterais ao tratamento com transplante de medula, que causaram
cegueira temporária e problemas de memória e de fala.
“ Para resumir, Timothy Ray Brown
é o que alguns chamariam de milagre da medicina”, afirmou Jamie L. Vernon.
“Outros diriam que ele é apenas um cara de sorte”.
Depois de demonstrar como a
ciência pode evoluir no método que teria curado Brown para aplica-lo a mais
pacientes – o que hoje seria impossível, tamanhos são os riscos e as
especificidades do caso desse paciente – o doutor Vernon se ressente que a
atenção dada ao caso tenha afastado os holofotes das conquistas promissoras na
pesquisa por uma vacina contra o HIV. Ou seja, um caso excepcional e inédito de
cura teria ofuscado avanços reais e palpáveis na prevenção da doença.
O americano Timothy Ray Brown, em Berlim, onde se tratou de leucemia e
aids. Ele é o primeiro paciente da história a derrotar o HIV
Para saber mais clique aqui
Nenhum comentário:
Postar um comentário