Há
muito tempo sabe-se que existe cerca de 100 trilhões de bactérias
nos intestinos e até então acreditava-se que a presença dessas
bactérias era benéfica para elas e seus hospedeiros na maior parte
das vezes, ou ainda que, no máximo, não favorecesse nem
prejudicasse qualquer um dos lados. Porém, nos últimos anos
surgiram estudos mostrando que, em alguns casos, a intimidade
contínua pode trazer consequências indesejáveis para o hospedeiro.
A
equipe do médico Mário Abdalla Saad, da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), publicou um estudo na revista PloS Biology
demonstrando que um determinado grupo de bactérias intestinais pode,
em certas situações, iniciar um desequilíbrio metabólico que
quase sempre leva ao desenvolvimento de diabetes e obesidade.
A
alteração que antecede o diabetes e o ganho excessivo de peso é o
que os médicos chamam de resistência à insulina. Quando a
resistência à insulina se instala, o corpo deixa de usar de maneira
adequada o hormônio que permite às células dos músculos e de
outros tecidos retirar o açúcar do sangue e convertê-lo em energia
ou estocá-lo para usar mais tarde. Em experimentos com camundongos,
a equipe de Saad verificou que por trás da resistência à insulina
podem estar as bactérias do filo Firmicutes.
O
aumento da proporção de Firmicutes na microbiota intestinal parece
influenciar o surgimento de diabetes e obesidade de duas maneiras:
por melhorar a capacidade de extrair energia dos alimentos ou por
contribuírem para o desenvolvimento de uma inflamação sutil,
típica da obesidade, que se espalha pelo organismo e interfere no
aproveitamento da insulina.
Porém,
não são as Firmicutes que disparam a inflamação. Elas apenas
parecem facilitar a passagem de pequenos fragmentos de outras
bactérias – constituídos de lipopolissacarídeos (LPS) - pela
delicada parede dos intestinos, que vão se aderir a receptores na
superfície de diferentes tipos de células do corpo. Ao se
conectarem à membrana dos macrófagos, os LPS acionam sinais
bioquímicos que colocam o sistema imunológico em alerta e iniciam a
inflamação leve. Nas células dos músculos, do fígado e do tecido
adiposo os sinais inflamatórios disparados pelos LPS também geram
um efeito distinto: impedem o uso da insulina e a entrada de glicose
nas células – é a resistência à insulina. A exposição
prolongada ao LPS faz a resistência à insulina se instalar primeiro
no fígado depois nos músculos e só mais tarde ela atinge o tecido
adiposo.
O
trabalho da PLoS Biology abre caminho para se buscar novas formas de
combate e prevenção ao diabetes e à obesidade. “Não estamos
propondo o uso de antibiótico para tratar a obesidade; no estudo
eles servem para provar um conceito”, alerta Saad. Alguns acreditam
que os probióticos, compostos contendo microrganismos vivos, possam
ajudar a desenvolver uma microbiota que evite o ganho de peso, mas
não está comprovado. “Talvez funcione como prevenção, antes que
se comece a engordar”, imagina Saad.
Enquanto
não avançam os testes, a saída menos arriscada é praticar
exercícios físicos e apostar em uma dieta com pouca gordura.
Para mais informações sobre o estudo realizado, acesse a notícia na íntegra.
Para mais informações sobre o estudo realizado, acesse a notícia na íntegra.
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