sexta-feira, 30 de março de 2012

Levedura luminescente para detectar hormônios em rios


     Um novo tipo de teste realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em cooperação com colegas norte-americanos da Universidade do Tennessee revelou que alguns mananciais do estado de São Paulo possuem níveis elevados de compostos estrogênicos, uma classe de contaminante que pode trazer sérios riscos ao ambiente, aos animais e à saúde humana. O teste é baseado no uso de leveduras transgênicas luminescentes.

     Existem métodos de tratamento de esgoto eficientes para a eliminação desses hormônios, como os oxidativos avançados e os que utilizam ultrafiltração, mas nem sempre são usados porque possuem custos elevados.

    A importância do estudo feito no Brasil é o seu ineditismo. “A inovação do nosso trabalho foi que, pela primeira vez, aplicou-se em larga escala o teste com as leveduras para monitorar a qualidade de águas brutas e tratadas, comparando os resultados com análises químicas de compostos estrogênicos. Isso nunca havia sido feito antes”, diz Gisela, que trabalhou durante 22 anos na Divisão de Toxicologia, Genotoxicidade e Microbiologia Ambiental da Cetesb.    O teste Blyes (sigla de bioluminescent yeast estrogen screen ou ensaio com levedura bioluminescente para detecção de estrógeno) foi desenvolvido pela equipe do microbiologista John Sanseverino e da bióloga molecular Melanie Eldridge, do Centro de Biotecnologia Ambiental da Universidade do Tennessee, com quem a pesquisadora Gisela mantém contato desde 2008.

   Para desenvolver o teste, os cientistas norte-americanos precisaram, inicialmente, fazer alterações no código genético da levedura Saccharomyces cerevisiae a fim de torná-la luminescente e capaz de detectar os compostos estrogênicos. Em laboratório, o organismo recebeu um gene que produz o receptor de estrógeno humano e um conjunto de genes envolvidos na produção de luz, oriundos de uma bactéria luminescente. Quando este se liga a compostos estrogênicos presentes na amostra de água testada, o conjunto receptor mais compostos estrogênicos ativa os genes da produção de luz e a levedura fica luminescente.

    As mesmas amostras foram submetidas à análise química pela técnica de cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas, método já utilizado por algumas companhias de saneamento na detecção de compostos estrogênicos em água.  “Concluímos que o nosso teste é muito eficiente, mais fácil de usar e mais barato”, diz Gisela. Sensibilidade é outra vantagem do Blyes. 

    A expectativa dos pesquisadores é que os resultados chamem a atenção das instituições regulatórias ligadas ao ambiente e ao saneamento básico para a necessidade de definir normas e ações corretivas na gestão dos serviços de água e esgoto. 

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