O físico Luiz Orlando Ladeira tem uma maneira curiosa de descrever os nanotubos: "É a melhor agulha que existe na natureza". Com ela, seu colega Ary Corrêa Jr., do Departamento de Microbiologia da UFMG, penetra a parede da célula de um fungo que ataca o feijoeiro sem que seja preciso empurrá-la.
A doença, conhecida como ferrugem do feijão, é causada por fungos Uromyces. Ao cair sobre o vegetal, o organismo lança projeções celulares que penetram pelos estômatos. Corrêa Jr. consegue impedir a formação do apressório inativando a mensagem genética responsável pelo ataque. Para isso, usa uma sequência com a instrução para o fungo produzir a proteína invasora.
O material genético contrabandeado, o "antissenso", funciona como uma trava na engrenagem celular do fungo. Para isso, precisa chegar ao interior da célula. É aí que entra a agulha do nanotubo, com um milésimo da espessura da célula do fungo. O antissenso, grudado nela, passa pela parede celular como um alfinete atravessando um tecido.
"Como a sequência [genética] é específica do fungo, só ataca o próprio fungo", diz Corrêa Jr. Seria o fungicida perfeito, não fosse por um problema: vai demorar para alguém obter licença que permita aspergir RNA e nanotubos sobre uma plantação.
A característica mais marcante dos nanotubos é também sua fraqueza: a área específica. É a relação segundo a qual quanto menor for um objeto, maior será a superfície em proporção com seu volume. A área maior fica, assim, mais sujeita a interferir com tecidos vivos, possivelmente causando doenças. Corrêa Jr. sentiu então a necessidade de se aprofundar na matéria de segurança de nanocompostos. E ganhou o posto de responsável no CTNanotubos por essa interface com a opinião e o poder públicos.
Fonte: Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário