Um chip de poucos centímetros, mas que pode fazer o trabalho de um laboratório inteiro, é a aposta de cientistas brasileiros para o diagnóstico rápido e barato de três doenças que afetam principalmente a população pobre do país e do mundo: malária, leishmaniose e Chagas.
Basta uma gota de sangue para que o dispositivo, criado por cientistas do Instituto de Física da USP de São Carlos, consiga detectar se alguém está infectado. O resultado sai em poucos segundos.
Doenças infecciosas continuam atuais
Hoje, os testes laboratoriais são a principal forma de diagnóstico dessas moléstias.
Editoria de arte/Folhapress | ||
Além de não ficarem prontos na hora, esses exames necessitam de uma boa infraestrutura laboratorial. Algo que, em regiões isoladas e endêmicas, pode se tornar um grande obstáculo.
O novo chip elimina esses inconvenientes.
Para funcionar, o dispositivo se vale de impulsos elétricos. É o mesmo princípio dos velhos testes de glicemia --aqueles aparelhinhos geralmente usados por diabéticos para verificar a quantidade de açúcar no sangue.
Mas, em vez de açúcar, o exame brasileiro considera os impulsos elétricos gerados pela reação de uma proteína com os anticorpos que combatem as doenças.
MÉTODO
Os anticorpos são uma resposta do sistema de defesa do organismo à doença e só são produzidos por quem já foi infectado por um parasita.
"O chip tem várias nanopartículas [minúsculas esferas] que contêm uma proteína específica. Em contato com o sangue, essa proteína se liga ao anticorpo. O exame se vale das medidas elétricas causadas por essa reação", explica o coordenador do estudo, Valtencir Zucolotto, do Laboratório de Nanomedicina e Nanotoxicologia da USP de São Carlos.
Para cada uma das doenças testadas é usada uma nanopartícula específica.
"O exame conseguiu detectar as doenças até em estágios bastante iniciais", afirma Zucolotto, que tem a colaboração de um time de cientistas: Osvaldo Oliveira Júnior, Fernando Paulovich, Cristina Oliveira e Pietro Ciancaglini, também da USP, e Rodrigo Stabeli, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Rondônia.
O grupo já deu início ao processo para patentear o microchip do teste.
Por conta de seu princípio de ação, o método poderia ser usado ainda para detectar outras doenças que também geram uma resposta do sistema imune, como a dengue.
"Ainda é complicado falar em valores, mas ele certamente seria mais barato do que os exames laboratoriais", avalia Zucolotto.
Segundo o cientista, hoje seria possível produzir os circuitos que verificam os impulsos elétricos por algo em torno de R$ 100 e R$ 200.
Os chips, que são descartáveis após o uso, sairiam por cerca de US$ 1 (aproximadamente R$ 2,10).
"Nós desenvolvemos o protótipo, mas, para chegar ao mercado, é preciso que haja indústrias interessadas", completa o pesquisador.
RESSALVAS
Na opinião de Fernando Tobias Silveira, pesquisador responsável pelo laboratório de leishmanioses do Instituto Evandro Chagas, do Pará, a ideia do teste é "muito interessante", mas deve-se levar em conta as especificidades de cada doença.
"É preciso estar atento para o fato de que esses chips devem ser impregnados com antígenos altamente específicos. Por exemplo, se a suspeita é de leishmaniose visceral, é preciso que um desses chips esteja impregnado com antígeno de Leishmania infantum chagasi, que é o agente da leishmaniose visceral nas Américas", diz.
"Não adianta impregnar antígeno, por exemplo, de L. amazonensis, porque essa espécie é agente de leishmaniose cutânea no Brasil. Portanto, é preciso considerar que ocorrerão reações sorológicas cruzadas, reações falsas, se essas especificações não forem previstas", completa.
Fonte: Folha Ciência
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