domingo, 3 de novembro de 2013

Uma carona indesejada


microscopia de transmissão das nanopartículas de sílica multifuncionalizadas
Microscopia de transmissão das nanopartículas feitas à base de sílica multifuncionalizadas

O químico Oswaldo Alves juntamente com sua equipe observou, após vários experimentos, que nanopartículas carregadas de fármacos empregadas no tratamento de células tumorais também transportavam para dentro das células a mistura de vitaminas, proteínas e sais minerais que mantém as células vivas no meio de cultura. Tal descoberta sugeriu que essas nanoestruturas não eram veículos tão eficientes para o transporte de medicamento quanto se acreditava, uma vez que poderiam levar para dentro das células substância nocivas, funcionando então como cavalos de Troia. 

Até então, Alves e outros pesquisadores acreditavam que os fármacos eram levados às células sem interferências externas, pois as nanocápsulas ficam protegidas por uma capa formada por proteínas que ajuda a manter e proteger o medicamento no interior de seus poros. Neste estudo, os pesquisadores explicaram que essas nanoestruturas também atraem moléculas avessas à água, desencadeando reações químicas que podem comprometer ou até mesmo bloquear a liberação do fármaco preso aos seus microporos.

"Essas interações comprometeriam a eficácia do experimento", diz Alves em seu laboratório no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Podemos dizer, por exemplo, que é o fármaco que está agindo quando, na verdade, os resultados obtidos podem ser fruto da interação química entre o medicamento e as moléculas intrusas", ele observa. Também de acordo com ele, isso pode fazer com que a quantidade de fármaco encapsulado não chegue completamente às células.

"A verificação de que algumas moléculas conseguem furar a barreira proteica que recobre as nanopartículas pode fazer com que muitos trabalhos já feitos tenham de ser revisados", diz o biólogo Diego Stéfani Teodoro Martinez, do grupo de Alves.

Entretanto, os pesquisadores ainda não sabem como se dá essa interação químca. O mais importante, de acordo com Diego Stéfani, é que as moléculas intrusas, por conta própria, não pareciam ser capazes de penetrar nas células.
"Precisamos investigar melhor esse fenômeno. Não sabemos quanto do fármaco sai da partícula e quantos componentes são capazes de invadi-la [...]", diz o químico Amauri Jardim de Paula, autor principal do estudo. "O próximo passo é tentar controlar a quantidade de moléculas que entram na célula e entender se esse fenômeno ocorre de modo diferente em outros meios de cultura".
Para mais informações sobre o tema, acesse Revista Pesquisa FAPESP.

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