A hepatite C é uma doença infecciosa causada pelo vírus da hepatite C
(VHC) e que afeta, sobretudo, o fígado. Na maioria das vezes é assintomática,
atinge o nível crônico e apresenta um risco aumentado de desenvolver cirrose e
carcinoma hepatocelular (CHC).
A progressão da doença depende mais de fatores do hospedeiro, como, por
exemplo, a duração da infecção, a idade mais avançada e o consumo excessivo de
álcool, e não tanto do genótipo ou do nível sérico do RNA do vírus da hepatite
C (VHC).
O tratamento atual padrão para a hepatite C crônica inclui o interferon
em associação com a ribavirina, durante um período de tempo que varia de acordo
com o genótipo e a cinética do vírus. Na globalidade, a eficácia da terapia com
a combinação interferon α e ribavirina ronda os 50%, o que significa que cerca
de metade dos doentes não responde ao tratamento atual, tornando a repetição do
tratamento a única alternativa para estes doentes, não obstante a sua escassa
probabilidade de sucesso. A procura incessante de uma resposta virológica
mantida (RVM) justifica-se plenamente pelo fato de se reconhecer que a
erradicação do vírus está associada à cura da infecção, o que nos doentes com
cirrose implica uma redução drástica da incidência de CHC e da mortalidade.
Com a recente aprovação dos primeiros DAAs, os inibidores da protease
boceprevir e telaprevir, que já estão sendo distribuídos pelo SUS, um maior
número de doentes tem a oportunidade de conseguir a cura da hepatite C. Os
ensaios da fase II em doentes, usando o telaprevir em combinação com o
interferon alfa 2α e a ribavirina, mostraram um acréscimo de 20%-26% na RVM nos
regimes com telaprevir, comparativamente ao tratamento padrão 3,4. Estes
estudos demonstraram, também, que o regime de 12 semanas de telaprevir em
associação com 24 semanas de interferon mais ribavirina era o melhor
compromisso entre a eficácia e a segurança e, por outro lado, realçaram a
importância da ribavirina na prevenção da recidiva.
Nos doentes não respondedores, a terapêutica tripla com telaprevir,
seguindo o mesmo esquema de 12 semanas, com 36 semanas adicionais de
terapêutica standard, mostrou taxas de RVM de 83% nos recidivantes, 59% nos
respondedores parciais e 29% nos respondedores nulos5. Com o boceprevir,
incluindo a fase de lead-in e uma terapêutica tripla durante 32 semanas mais 12
semanas adicionais de terapêutica standard, a taxa de RVM foi de 75% nos
recidivantes e de 52% nos não respondedores (neste ensaio não foram incluídos
respondedores nulos).
A terapêutica antivírica da hepatite C tem evoluído desde os anos oitenta
por acréscimos de eficácia pautados pelo fator 20: 20% de cura nos estudos
iniciais com a monoterapia com o interferon convencional; 20% de aumento com a
junção da ribavirina; 20% com a introdução do interferon e, finalmente, mais
20% com a terapêutica tripla associando um inibidor da protease.
Não obstante este extraordinário progresso, ainda existem fronteiras por
conquistar: a cura para cerca de um quarto dos doentes com genótipo 1 que não
responde à terapêutica tripla, a cura para os 20% de doentes com os genótipos 2
ou 3 que não respondem ao tratamento padrão e que não beneficiam da adição dos
inibidores da protease e ainda confirmar se os atuais inibidores da protease
são ativos no genótipo 47,8.
Nicola Sato
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