A leishmaniose é uma doença silenciosa no que diz respeito à ativação do sistema imunológico, uma vez que os protozoários do gênero Leishmania que causam a doença se alojam dentro das células sem matá-las e não assolam o organismo inteiro como acontece em muitas infecções bacterianas. "Uma lesão cutânea de leishmaniose pode permanecer por meses sem cicatrizar", conta o biólogo Dario Zamboni, responsável pelo estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. Segundo ele, em parte é por isso que Leishmania é um parasita pouco detectado pelo sistema imunológico.
Já se sabia que uma arma importante usada pelo sistema imunológico é o óxido nítrico, molécula que cumpre uma infinidade de funções no organismo, incluindo a defesa contra micróbios que causam doenças. "Ninguém sabia as vias de sinalização que levam à produção de óxido nítrico durante a leishmaniose", explica o pesquisador.
O grupo de pesquisadores coordenado por ele examinou o efeito da infecção por Leishmania em células de defesa (macrófagos) de camundongo in vitro e também nos animais vivos. Descobriu-se que a infecção induz a agregação, dentro das células dos roedores, das proteínas que formam o inflamassoma, que ativa a interleucina 1-beta (IL-1β). Essa é uma importante molécula do sistema imunológico que funciona como uma mensageira imunológica, já que sai da célula e circula até encontrar outra célula que esteja infectada, em cuja superfície se liga a receptores que desencadeiam a sinalização para a síntese de óxido nítrico.
De acordo com o estudo, o mecanismo funciona para as espécies Leishmania amazonensis e L. brasiliensis, causadoras da leishmaniose tegumentar, e L. infantum chagasi, responsável pela forma visceral da doença. Em L. major, menos comum no Brasil, o estudo mostrou que os parasitas ativam o inflamassoma, mas esse efeito não é necessário para controlar a infecção, embora o motivo dessa diferença ainda não esteja claro.
Zamboni acredita que o mesmo processo ocorrido em camundongos aconteça também em seres humanos. A esperança de tal estudo é contribuir para possíveis tratamentos, entretanto esse objetivo ainda está distante no horizonte. Não haverá uma solução simples como cápsulas de IL-1β, pois desequilíbrios nos teores e no funcionamento dessa molécula estão por trás de uma série de doenças auto-inflamatórias. "Entender a doença, assim como os mecanismos de resistência, é fundamental para se desenvolver uma terapia racional e vacinas contra essa doença", afirma Zamboni. Nesse caso, ele busca inspiração no que determina o sucesso - ou não - do próprio sistema imunológico nesse combate.
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Fonte: Revista Pesquisa Fapesp.
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