Resíduo da fabricação do suco da fruta poderia reduzir infestação do gado por parasitas, fazendo o produtor gastar menos com vermífugos comerciais, aos quais os vermes parecem cada vez mais resistentes.
Descartado pela indústria de suco
de frutas, o resíduo de abacaxi
pode vir a ser útil na medicina
veterinária, mais especificamente como
vermífugo. É o que aponta uma tese de
doutorado defendida em junho na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias
da Unesp em Jaboticabal. Ovelhas tratadas
com o produto, via oral, tiveram redução
significativa da infestação por um tipo de
lombriga que dá prejuízo aos produtores.
“Este estudo é um passo importante
na direção de um método alternativo de
controle de parasitas,de baixo custo e que
não contamina o animal nem o ambiente”, explica Gervásio Henrique Bechara,
professor que orientou a pesquisa. A demanda por um novo vermífugo de uso
veterinário, explica ele, vem do fato de
que esse tipo de parasita está cada vez
mais resistente aos medicamentos disponíveis. Como consequência, é necessário
aumentar a quantidade dessas drogas para
obter os mesmos efeitos, além de investir
no desenvolvimento de novos produtos, o que sempre é um processo dispendioso.
A autora da tese, a veterinária Luciana Ferreira Domingues, já havia trabalhado
com a casca de abacaxi e conhecia bem
a indústria da polpa da fruta. No contato
com os fabricantes para obter material para o estudo, acabou constatando que boa
parte dos resíduos já é fornecida a produtores rurais e usada para complementar a
dieta de bovinos, ovinos e caprinos. “Para
as indústrias, isso é lixo que precisa ser
descartado, e fornecê-lo aos produtores
é uma maneira de dar um destino sus-
tentável para seu resíduo”, afirma ela.
Os primeiros testes foram feitos em laboratório. Da casca da fruta Luciana extraiu os principais componentes e aplicou esse extrato, dissolvido em água, em ovos e larvas do nematoide Haemonchus contortus, um minúsculo parente da lombriga que ataca principalmente carneiros e ovelhas e atazana a vida dos produtores brasileiros. O produto conseguiu evitar que os ovos eclodissem e que as larvas se desenvolvessem, com uma eficácia de 50%. Testando separadamente a bromelina, uma enzima bem conhecida do abacaxi, obteve resultados semelhantes. “Há praticamente um consenso entre os especialistas de que certas enzimas sejam capazes de atacar a cutícula que reveste esses parasitas, matando-os”, explica ela.
Com bons resultados nos testes de laboratório, a etapa seguinte foi verificar se o resíduo do suco de abacaxi tinha alguma eficácia quando administrado diretamente nos animais. Isso foi possível graças a uma parceria com a Embrapa, que cedeu o espaço e 36 ovelhas para o experimento. Os animais foram divididos em seis grupos: um foi tratado com o extrato da casca do abacaxi, outro com resíduos da indústria incorporados à alimentação, um terceiro com bromelina pura, e um quarto recebeu vermífugos convencionais. Os dois grupos restantes não foram tratados. Contando os ovos do nematoide nas fezes das ovelhas, a pesquisadora conseguiu medir o efeito da intervenção em cada grupo.
Na comparação com os animais não tratados, o grande vitorioso foi o resíduo industrial, com 42% de redução da quantidade de parasitas depois de 28 dias de tratamento. O vermífugo indus- trial eliminou 89% da infecção após o mesmo período. À primeira vista, o resultado sugere que o abacaxi não é uma arma tão confiável, mas não é bem assim, explica a veterinária. Incorporado à alimentação dos animais, o resíduo da fruta poderia reduzir a quantidade de vermífugo necessária para o tratamento, cortando custos para o criador. “Não estamos necessariamente procurando um substituto para os vermífugos, mas sim substâncias que possam ser utilizadas para reduzir seu uso”, diz Luciana. “Isso evitaria o aumento da resistência dos parasitas aos vermífugos comerciais, o que tende a prolongar sua vida útil.”
Ensinas Indefesas
O que a pesquisadora não esperava é que a bromelina, isoladamente, fosse tão pouco eficaz – reduziu a infecção em meros 3%. Mas isso não joga por terra a tese segundo a qual esta enzima é a responsável pelos efeitos antiparasitários do extrato da fruta, segundo a pesquisadora. “O H. contortus se aloja no abomaso, que é o quarto estômago dos ruminantes. Até chegar lá, a bromelina passa por uma série de processos químicos, especialmente no rúmen, o primeiro estômago, e sofre desnaturação, ou seja, sua atividade é perdida antes que tenha chance de atuar sobre os parasitas”, explica. Misturada aos resíduos ou ao extrato da fruta, a bromelina tem mais chance de chegar intacta ao local do que pura, situação que a deixa mais “indefesa.”
Além dos parasitas internos, o resíduo de abacaxi poderia ajudar também a controlar um tipo de parasita externo, pelo menos é o que apontam os resultados de laboratório. A pesquisadora testou a eficácia do extrato da fruta contra o carrapato bovino Rhipicephalus microplus. “O objetivo era verificar se o efeito do produto sobre a cutícula dos nematódeos também se aplicava aos carrapatos”, diz Luciana. Para isso, ela usou fêmeas de carrapatos, que levaram um “banho” de extrato da fruta. A ideia era verificar a inibição de postura de ovos e sua consequente eclosão. A eficácia do extrato nessa tarefa foi de 55% e a da bromelina, 59%.
Já os testes com as larvas do bicho decepcionaram a pesquisadora. A eficácia do extrato e da bromelina foi zero. “Mesmo não obtendo resultados tão bons quanto no caso dos nematódeos, é cedo para descartar o abacaxi como possível método de tratamento. Além disso, é o primeiro relato do seu efeito sobre os carrapatos”, pondera a recém-doutora. Os resultados da tese foram publicados nas revistas Experimental Parasitology e Veterinary Parasitology.
O que a pesquisadora não esperava é que a bromelina, isoladamente, fosse tão pouco eficaz – reduziu a infecção em meros 3%. Mas isso não joga por terra a tese segundo a qual esta enzima é a responsável pelos efeitos antiparasitários do extrato da fruta, segundo a pesquisadora. “O H. contortus se aloja no abomaso, que é o quarto estômago dos ruminantes. Até chegar lá, a bromelina passa por uma série de processos químicos, especialmente no rúmen, o primeiro estômago, e sofre desnaturação, ou seja, sua atividade é perdida antes que tenha chance de atuar sobre os parasitas”, explica. Misturada aos resíduos ou ao extrato da fruta, a bromelina tem mais chance de chegar intacta ao local do que pura, situação que a deixa mais “indefesa.”
Além dos parasitas internos, o resíduo de abacaxi poderia ajudar também a controlar um tipo de parasita externo, pelo menos é o que apontam os resultados de laboratório. A pesquisadora testou a eficácia do extrato da fruta contra o carrapato bovino Rhipicephalus microplus. “O objetivo era verificar se o efeito do produto sobre a cutícula dos nematódeos também se aplicava aos carrapatos”, diz Luciana. Para isso, ela usou fêmeas de carrapatos, que levaram um “banho” de extrato da fruta. A ideia era verificar a inibição de postura de ovos e sua consequente eclosão. A eficácia do extrato nessa tarefa foi de 55% e a da bromelina, 59%.
Já os testes com as larvas do bicho decepcionaram a pesquisadora. A eficácia do extrato e da bromelina foi zero. “Mesmo não obtendo resultados tão bons quanto no caso dos nematódeos, é cedo para descartar o abacaxi como possível método de tratamento. Além disso, é o primeiro relato do seu efeito sobre os carrapatos”, pondera a recém-doutora. Os resultados da tese foram publicados nas revistas Experimental Parasitology e Veterinary Parasitology.
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