Pessoas que trabalham em estufas tendem a enfrentar um maior risco quando expostos a pesticidas, devido a diversos fatores que acabam por intensificar essa exposição, como o uso de produtos químicos potencialmente perigosos em ambientes fechados, o uso inapropriado de equipamentos de proteção individual (EPI) e pela falta de controle dos intervalos de reentrada após aplicação dos pesticidas, que acaba sendo uma ameaça não apenas para aqueles que aplicam os produtos, quanto àqueles que manuseiam as plantas posteriormente.
A pesquisa conduzida por Marcelo G. Ribeiro, da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (São Paulo/SP), teve como alvos trabalhadores das seis estufas produtoras de flores que mais faziam uso de pesticidas na região do Alto Tietê, em São Paulo. Na primeira etapa, para se determinar quais estufas mais usavam pesticidas, o grupo de pesquisa visitou diversas estufas da região e aplicou um questionário aos proprietários contendo informações como, “área cultivada”, “culturas cultivadas”, condições de bem-estar das instalações”, “atividades dos trabalhadores”, “manuseio, armazenamento e descarte de pesticidas”, entre outras.
Durante a segunda etapa da pesquisa, o grupo visitou as seis estufas que possuíam a frequência mais alta no uso de pesticidas (como ditiocarbamatos e organofosforados), aplicando, então, um questionário diretamente aos trabalhadores, cobrindo tópicos como, “procedimentos de segurança padrões”, “rotas de aplicação do pesticida”, “características dos equipamentos”, “uso de EPI”, e “treinamento”. Foram também avaliadas nesses mesmas estufas as práticas de segurança e saúde ocupacionais antes, durante e após a aplicação dos produtos químicos.
A maioria das estufas visitadas era familiar, onde o trabalho era feito por membros da família e por trabalhadores assalariados permanentes e temporários. Nesse caso a exposição aos pesticidas é um problema, pois homens, mulheres e crianças trabalhavam e/ou moravam próximos às estufas onde os químicos eram aplicados e armazenados. Além disso, trabalhadores temporários não recebiam o devido treinamento. Outro risco observado pelos pesquisadores foi a ocorrência de reentrada nas estufas logo após a aplicação dos pesticidas. Devido ao ambiente fechado, o produto não consegue se dissipar tão facilmente como em locais abertos. Os trabalhadores, ainda, não utilizavam os equipamentos de proteção apropriados, que pode ser devido aos altos custos desses equipamentos. Dentre as queixas de saúde relatadas pelos trabalhadores se encontravam cefaleia, coceira, perda de memória, dores no peito e tontura. Mas que, apesar dos sintomas, nunca haviam ido ao hospital.
A pesquisadora comenta que apesar de muitos dos trabalhadores declararem que foram treinados no porque e como usar EPI, que foram informados sobre as propriedades nocivas dos pesticidas e as consequências da exposição aguda e crônica, e que sabiam o que fazer se algo de errado acontecesse, o comportamento observado sugeria que eles não tinham uma clara percepção dos danos e riscos. Segundo o grupo isso tende a ocorrer devido à familiaridade com os procedimentos, o que leva a uma maior aceitabilidade e subestimação do risco.
Pablo Diego Moço
Graduando do curso de Engenharia Biotecnológica
Graduando do curso de Engenharia Biotecnológica
RIBEIRO, M. G.; COLASSO, C. G.; MONTEIRO, P. P.; PEDREIRA FILHO, W. R.; YONAMINE, M. Occupational safety and health practices among flower greenhouses workers from Alto Tietê region (Brazil). Science of the Total Environment, 2012, v. 416, p. 121-126. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969711012666>. Acesso em: 22 set. 2012.
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