sábado, 9 de fevereiro de 2013

Diário de um Engenheiro: Riscos do uso de Agrotóxicos para os Trabalhadores Agrícolas


O uso de agrotóxicos para controle de pragas na agricultura é intensivo em todo o Brasil. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG), entre 2010 e 2011 houve um aumento médio de 15% nas vendas de agrotóxicos em geral, impulsionadas principalmente pelas culturas de soja, cana, milho, algodão e café. 

Os trabalhadores agrícolas apresentam um grande risco de intoxicação, devido ao contato intenso com agrotóxicos concentrados. A pele é o órgão mais exposto durante as pulverizações, elaboração das caldas ou limpeza do equipamento de pulverização e durante o descarte de embalagens vazias. Contudo, para produtos altamente voláteis ou que apresentam baixa absorção pela derme, a via inalatória pode ser mais importante. 

As dermatoses, como as dermatites de contato, são patologias frequentes entre os usuários de agrotóxicos. Outras formas menos frequentes também podem ocorrer, como urticária, hipopigmentação da pele, e alterações em unhas e cabelos. 

Apesar do consumo intensivo de agrotóxicos, os registros oficiais sobre intoxicações são limitados para os casos agudos e quase inexistentes para as intoxicações crônicas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, para cada caso notificado de intoxicação, existem outros cinquenta não notificados. De acordo com o Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (SINITOX), na região Sul do Brasil, no ano de 2000, foram registrados 1.496 casos de intoxicações por agrotóxicos, o que corresponde a 7,98 % de todos os casos de intoxicação humana nesta região. Outro obstáculo é a insuficiência de recursos humanos e laboratoriais para estabelecer diagnósticos pode interferir na identificação da intoxicação. Este fator é influenciado pelo grande interesse em desenvolver tecnologias para aumento da produção na agropecuária, geralmente sem levar em consideração os impactos à saúde e à segurança do trabalhador. 

Alguns compostos químicos, para causarem efeitos tóxicos, requerem exposições repetidas, enquanto outros requerem uma única exposição. Assim, o efeito toxicológico de um composto pode estar relacionado ao padrão de exposição (dose, frequência e duração) e de absorção, metabolismo, e cinéticas de distribuição e eliminação, toxicodinâmica e toxicinética. Os agrotóxicos mais tóxicos geralmente estão envolvidos nos Eventos de Alta Exposição na Agricultura (EAEA), que podem resultar de práticas como manuseio na troca ou lavagens de roupas contaminadas juntamente com roupas dos familiares, estocagem de pesticidas no domicilio do agricultor. As três causas principais para os EAEA são a falha do trabalhador em seguir as recomendações dos fabricantes, que acompanham as embalagens, falta de experiência do aplicador e outros eventos aleatórios, como por exemplo, a ruptura de mangueiras. Outro dado preocupante é o baixo índice de escolaridade dos trabalhadores rurais brasileiros, que torna essa população altamente suscetível aos riscos de acidentes com agrotóxicos. Um estudo realizado em 2001 com trabalhadores rurais do Rio de Janeiro mostrou que a maioria (64%) não lia os rótulos dos agrotóxicos que utilizavam, além de não utilizarem de maneira adequada os equipamentos de proteção. 

Os riscos do uso de agrotóxicos podem ser minimizados por meio da utilização correta e racional dos produtos. A falta de informação por parte dos trabalhadores rurais quanto ao risco a que estão expostos quando manipulam agrotóxicos, deve-se na maior parte das vezes à baixa escolaridade, que dificulta, ou mesmo impossibilita, o acesso às informações de extrema importância para a sua segurança e dos envolvidos direta e indiretamente com a atividade agrícola. O monitoramento constante do impacto da utilização de agrotóxicos na saúde humana e no meio ambiente é um objetivo a ser alcançado. 

Portanto, é de extrema importância a divulgação dos riscos que os agrotóxicos oferecem, bem como o esclarecimento aos agricultores em relação às medidas de prevenção de acidentes com esses produtos. 

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) lançou uma cartilha, disponível em seu site, com orientações para trabalhadores rurais que trabalham com agrotóxicos. O objetivo é que eles saibam como evitar intoxicações. 

A cartilha cita quais são os principais sintomas de intoxicação aguda, seja pela respiração, boca ou contato com a pele, e como a pessoa deve agir. 

O material orienta o agricultor a comprar o agrotóxico seguindo as recomendações de um agrônomo, que vai indicar a substância adequada para o tipo de plantação e a dose certa. Outras dicas são sobre o transporte, armazenamento e descarte correto das embalagens. 

Beatriz Villani Cleante 
Graduando em Engenharia Biotecnológica

Bibliografia: 

Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Cartilha sobre Agrotóxicos. Brasília, DF, 2011. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/9e0b790048bc49b0a4f2af9a6e94f0d0/Cartilha.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em 3 out. 2012. 

FARIA, N. M. X. et al. Trabalho rural e intoxicações por agrotóxicos. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, p.1298-1308, set-out. 2004. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csp/v20n5/24.pdf>. Acesso em 3 out. 2012. 

FARIA, N. M. X. et al. Intoxicações por agrotóxicos entre trabalhadores rurais de fruticultura, Bento Gonçalves, RS. Revista Saúde Pública, Bento Gonçalves, RS, 15 set. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/2009nahead/7200.pdf>. Acesso em 3 out. 2012. 

SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA DEFESA AGRÍCOLA. Disponível em: <http://www.sindag.com.br>. Acesso em 3 out. 2012. 
Sistema Nacional de Informações Toxico Farmacológicas. Disponível em: <http://www.sinitox.icict.fiocruz.br>. Acesso em 3 out. 2012. 


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