sábado, 2 de junho de 2012

Mosquitos transgênicos serão solto para combater a dengue



              Para os animais, o ato sexual é o caminho para a perpetuação da espécie. Um objetivo primordial que está se invertendo – pelo menos para o Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue. Por meio de manipulação genética, uma população de machos criados em laboratório recebeu um gene modificado que produz uma proteína que mata a prole do cruzamento com fêmeas normais existentes em qualquer ambiente. Essa estratégia pode levar à supressão de um grande número de indivíduos dessa espécie, reduzir a pulverização de inseticidas para eliminar os mosquitos e, consequentemente, diminuir a incidência da doença entre seres humanos.

A primeira liberação na natureza desses animais geneticamente modificados no Brasil foi aprovada em dezembro de 2010 pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). A linhagem transgênica do Aedes aegypti desenvolvida pela empresa britânica Oxford Insect Tecnologies (Oxitec) deverá ser liberada no município de Juazeiro, no estado da Bahia, a partir deste mês pela bióloga Margareth Capurro, do Instituto de Ciên­cias Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a empresa Moscamed Brasil, instalada na mesma cidade baiana.
                A dengue é um dos principais problemas de saúde pública do mundo, especialmente em paí­ses tropicais como o Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 50 milhões de pessoas contraem a doença anualmente, causando 550 mil internações hospitalares e 20 mil mortes. Hoje a única forma de controlá-la é eliminando seu transmissor, o mosquito Aedes aegypti. Os insetos transgênicos desenvolvidos pela Oxitec poderão se transformar em uma opção para essa tarefa. Os machos da linhagem OX513A, como foi denominada pela empresa, são liberados para copular com fêmeas selvagens. Os descendentes desses acasalamentos herdam a proteína letal, morrendo ainda na fase de larva ou pupa. Para que sua produção seja possível em laboratório, eles foram programados para sobreviver quando recebem o antibiótico tetraciclina. Sem esse antídoto, que reprime a síntese da proteína letal, não haveria sobreviventes para serem soltos na natureza. A cepa transgênica contém um marcador genético fluorescente que se torna visível nas larvas quando elas recebem luz ultravioleta. Isso garante um controle maior de qualidade na produção e na dispersão no campo. A liberação contínua e em número suficiente desses insetos geneticamente modificados em ambientes infestados deve reduzir com o tempo a população dos mosquitos selvagens a um nível abaixo do necessário para transmitir a doença.
                A julgar pelos resultados obtidos em outros lugares do mundo, onde os mosquitos produzidos pela Oxitec foram soltos, há bons motivos para se esperar que a experiência dê certo no Brasil. Testes realizados no ano passado nas Ilhas Cayman, no Caribe, com 3 milhões de mosquitos geneticamente modificados, mostraram que houve uma supressão de 80% da população selvagem no local da liberação. Na Malásia foram obtidos resultados semelhantes. Eles motivam outros países a também realizar experiên­cias com os transgênicos da empresa britânica. A Oxitec informa em seu site que França, Índia, Cingapura, Tailândia, Estados Unidos e Vietnã já aprovaram a importação dos insetos.

                Se as pesquisas e o tempo mostrarem que essas estratégias, de usar engenharia genética para criar mosquitos transgênicos, são eficientes para controlar doen­ças como a dengue e a malária, haverá ainda outra vantagem. Essa forma de controle diminuirá a necessidade do uso de inseticidas e larvicidas. A curto prazo esses venenos podem ser mais baratos, mas com o tempo os insetos adquirem resistência a eles. Por isso, o uso de mosquitos transgênicos e estéreis parece ser uma boa opção para o futuro.

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