O câncer de ovário é o quinto tipo de câncer mais comum
entre as mulheres e causa mais mortes que qualquer outro tipo de câncer nos
órgãos reprodutores femininos, pois costuma ser identificado tardiamente.
Atualmente, o único tratamento para todos os estágios desse câncer é a
cirurgia, na qual é removido o útero, os ovários, as trompas e a remoção de
parte ou toda a camada de gordura que protege os órgãos no abdômen. A quimioterapia
é usada após a cirurgia para tratar qualquer resíduo do câncer e quando a
doença reincide.
Até o fim do ano, será testado o anticorpo monoclonal RebmAb200
no hospital da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, sendo a primeira vez que
uma versão produzida especificamente para uso em seres humanos desse composto
será utilizada em um teste clínico. Esse teste será realizado em seis mulheres,
que fizeram a cirurgia e a quimioterapia contra o câncer de ovário, como reforço
no tratamento da doença. O RebmAb200 foi produzido, em 10 anos de pesquisa, no
Brasil por uma empresa privada de biotecnologia, a Recepta Biopharma, com
participação de equipes de instituições públicas de pesquisa consagradas, como
o Instituto Butantan e a USP, contando com os financiamentos da Recepta Biopharma,
da FAPESP e da Financiadora de Estudos e Projetos.
Anticorpos são proteínas produzidas no nosso organismo que
ajudam o sistema imunológico a combater vírus, bactérias e câncer através do
reconhecimento de antígenos e os anticorpos monoclonais são específicos para
uma única região do antígeno, reconhecendo assim um tipo de célula. Com essa
característica, o RebmAb200 foi criado para carregar elementos químicos
radioativos até a célula cancerígena, permitindo que apenas esta fosse bombardeada
com a radiação, evitando acertar as células sadias. Mas, em experimentos com
células animais e humanas, foi mostrado que esse anticorpo, mesmo sem a carga
radioativa, se liga às células cancerígenas e aciona os linfócitos, que entende
aquele conjunto como um corpo estranho e o ataca com substâncias tóxicas,
destruindo a célula, reduzindo a taxa de crescimento tumoral. Se funcionar,
essa estratégia pode evitar o restabelecimento de células malignas nos ovários
ou sua migração para outros órgãos.
Os testes clínicos que serão realizados em Gotemburgo são
muito importantes para o processo de aprovação desse composto como medicamento,
pois é na fase de testes clínicos que se pode observar a real eficácia e os
efeitos colaterais do tratamento. Independentemente dos resultados, as
pesquisas para a obtenção do RebmAb200 permitiram conhecimentos que
proporcionam a produção, em grande quantidade, de anticorpos humanizados com um
padrão de qualidade e estabilidade. Os anticorpos humanizados são anticorpos
produzidos em laboratórios que apresentam menores riscos de provocar alergias.
O Brasil domina há tempos a tecnologia da
produção de vacinas, mas ainda não conseguiu desenvolver um medicamento
biológico (biofármaco) completamente inovador que chegasse ao estágio de ser
comercializado, o RebmAb200 pode ser o primeiro deles e abrir as portas para
essa área.
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